Impressões do Motorola EX117

Fiz uma série de posts sobre como configurar este aparelho, mas senti falta de contar um pouco da minha experiência com ele. Como já disse antes, com essa corrida atrás de GHz de clock, de GB de memória, com polegadas de tela, acabamos esquecendo de coisas mais essenciais que um celular deveria fazer. Dentre elas, com certeza permitir fazer e receber chamadas de forma barata. E penso que a proposta de ter três SIMs é nesse sentido.

Motorola tem produtos muito interessantes em telefonia celular. Desde modelos sofisticados como o Atrix e a linha Milestone até modelos mais simples, mas de não menos sucesso como a linha Razr. Infelizmente, agora que está vendida para a Google, acho que essa qualidade tenderá a cair, já que o foco do negócio vai ser o software e os serviços online. Vejo desta forma a razão do surgimento do EX117, um aparelho com uma tecla dedicada ao Facebook.

Para quem serve este produto? Basicamente, para quem quer um aparelho com mais SIMs para aproveitar os preços menores de ligação entre celulares de mesma operadora. Pelas estatísticas, mais da metade do mercado de telefonia é dominada por três operadoras, em ordem decrescente de tamanho: Vivo, Tim e Claro. A Vivo é imbatível em cobertura de sinal. É a única com que pego sinal em lugares remotos como no meio de uma fazenda em plena Mato Grosso. A Tim tem um bom preço no pré-pago entre aparelhos de mesma operadora. O mais importante, é um preço descomplicado, sem muitas regrinhas de uso. A Claro herdou o legado da antiga Embratel e, com isso, pôde fazer algumas loucuras como oferecer valores ainda menores que a Tim no pré-pago, bem como oferecer serviços mais sofisticados como combos com TV e telefonia fixa. Assim, faz muito sentido ter um aparelho com três SIMs.

O aparelho é sem dúvida voltado para o público jovem e duro de grana. Afinal, é esse o público que terá paciência e necessidade de decorar quem tem qual operadora e selecionar, a cada chamada, entre os três SIMs. Também é um público que usa Facebook, se antena no Twitter e curti ficar vendo vídeos no YouTube. O Orkut foi um tiro meio longo, já que ele só faz algum sucesso no Brasil. Está declinando e, francamente, não vejo futuro nele. Isso talvez explique porque eu não consegui achar nenhuma informação sobre o EX117 no exterior. Não é comercializado fora do Brasil, até onde sei. Pelo menos não usando o mesmo código de modelo. Talvez em algum outro mercado emergente como a Índia. Realmente não sei.

Bom, mas chega de mercado e vamos falar um pouco do que interessa: o EX117.

Os teclados são bons, com a ressalva que cabe a todo teclado “apertado” como este. Um pouco pior que o teclado da Blackberry, pois este é mais espaçado entre as teclas. Mas a sensação do click é a mesma. A tecla de navegação é muito estreita e é preciso usar a unha para não clicar sem querer no botão quadrado preto de seleção. Também não gostei de fazerem as teclas de volume ficarem no botão de navegação. O agravante é que a combinação de aumentar e diminuir volume varia de aplicativo para aplicativo. Quando se atende o telefone, são os botões esquerda e direita. Quando se ouve música, são os botões para cima e para baixo. O botão dedicado para o Facebook serve para postar algo no seu mural. Se você mantiver pressionado o botão, ele fará o login na sua conta do Facebook.

A tela é agradável. Como LCD que é, difícil de ver algo sob luz do sol direta. Incomoda a faixa azul enorme do Facebook ocupando metade da tela, praticamente. Não tem como tirar também. Torna inútil ter um papel de parede, pois sempre ficará sobreposta por esta faixa. Tem algumas indicações na tela que não sei qual a lógica. Surge o nome da operadora no lado direito da tela. Os nomes se alternam, mas não faço ideia do motivo ou o que indicam. Na barra de status no topo da tela, o meu gráfico de barras do sinal de celular tem um “traço” sobre a barra da linha 3. Qual o motivo, não sei. Nem sei como modificar isso. Falando em linhas, a disposição dos SIMs é bem estranha. Dois ficam dentro do celular, acessível pelo compartimento da bateria. Lá também fica o cartão SD de memória. O terceiro SIM fica na lateral do aparelho. Aliás, nas laterais é um aparelho limpo. Só tem essa abertura, o conector micro-USB e o conector dos fones de ouvido. Na traseira tem a câmera de 2 Mpixel e uma abertura por onde sai o som dos alto-falantes embutidos. O som não é ruim quando tocando música. No viva-voz ele distorce um pouco no volume máximo. É preciso ficar com a mão atrás do aparelho para rebater o som e torná-lo mais claro. Porém, achei baixa a campainha de ligação. Mesmo na configuração de perfil de som “Externo”. Dentro de uma bolsa, é difícil ouvir.

Também não é muito legal o sistema de predição de escrita. Se limita a mostrar os caracteres acentuados ou cedilha. Nada muito sofisticado. O negócio é digitar no cata-milho mesmo. A navegação nos menus também é um pouco complicada. Uma hora se pode fazer por meio de números, em outros momentos somente por meio das teclas de navegação e, em outras, por meio de ícones. Isso nos remete a um outro problema. Tem muito menu aninhado em outro menu. A navegação entre opções é confusa e pouco intuitiva.

Sobre os aplicativos, nada muito especial. Uma coisa chata é ter que toda hora digitar as informações de login e senha no Facebook, caso você saia do aplicativo. Ele não os armazena. Por outro lado, o aplicativo do Twitter permite armazernar login e senha. Também é estranho que existam dois navegadores de Internet. Um é o Mini Opera e o outro está na pasta “aplicativos”. Este último nem se apresenta como um navegador. Está como “serviço de Internet”, num menu misturado com configuração de conexões. Ao pressionar “página inicial”, ele abre o navegador. Bem estranho mesmo. Os seus contatos da agenda telefônica não podem ser salvos no desktop. Nem existe maneira de fazer um backup deles. Logo, se prepare se trocar de celular. Só pelo SIM mesmo. Este é um celular monotarefa. Ele não executa o Facebook e o Twitter ao mesmo tempo. Pode-se “minimizar” um deles, mas ele ficará inativo até receber novamente o foco. Também acontece com os aplicativos Java. Apenas um pode rodar por vez.

Na parte de hardware, a duração da bateria é boa se levarmos em consideração o peso do aparelho. Ele é leve a despeito do tamanho. Pouco mais de 80 gramas. Utilizando com a função de Internet ligada, dura um pouco mais de 36 horas. Para carregar, o manual fala em três horas. Mas com o marcador de energia no laranja (carga baixa), ele leva um pouco mais de uma hora para dar a mensagem de carga completa na tela.

Com tantos aspectos “ruins”, o celular é uma porcaria então? Não, não é. É melhor que um xing-ling com três SIMs. Pelo menos é mais confiável (quero dizer, pelo menos foi testado na especificação de SAR!), o material do acabamento é bom, não tive problemas de receber ou fazer ligação, o som durante a conversa é clara e a pessoa do outro lado me ouve bem também. A conexão, uma vez resolvido os problemas de configuração, também é estável. Não digo rápida, porque é toda ela em EDGE. Não tem milagre. Mas por outro lado, não fica caindo quando em movimento. Vale ressaltar também que não tem conexão wi-fi, logo, é preciso ter um plano de dados para usufruir do navegador e dos aplicativos sociais. O rádio é sensível e pegou a maioria da estações, mesmo as mais fracas. Precisa do cabo do fone como antena, como a maioria dos rádios em celular. Finalmente, tem um preço razoável, pouco mais de 300 reais. Um preço OK para uma novidade. Logo, é um celular honesto, que oferece o básico. Se você conseguir lidar com a complicada configuração e a falta de informações do manual do início, ele se mostrará um bom companheiro do dia a dia.

 

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