Ultimamente ando meio pensativo sobre as questões do amor. De um lado cansado do bombardeio da mídia, de outro, pensando em mim mesmo. Amor não é uma questão fácil. E já começa aqui a minha curiosidade. Por que será que não é fácil? Algo que, a princípio (ou que nos fazem pensar que seja), deveria ser fonte de tanta alegria, contentamento, energia, mas, ao mesmo tempo, traz tristeza, nos deixa ansiosos na busca, suga o tempo para nossas ideias e a força do corpo. Acabei de ler “Amor: um sentimento desordenado”, de Richard David Precht. Eu cheguei ao livro de Precht por um artigo que li acho que na Folha. É considerado um best-seller. Claro que isso não é sinônimo de qualidade, apenas de que vendeu bem. Infelizmente, esse é o caso deste livro.
A despeito da longa literatura que o autor apresenta, das comparações que faz entre correntes de pensamento, modelos e teorias explicativas, ficam lacunas importantes no ponto de vista do autor. Nenhuma obra é perfeita. Pior ainda quando se trata de temas complicados e vastos como o amor. As chances de lacunas é maior ainda. O que não me agradou foi o livro não ter trazido nada de novo, a despeito do autor apresentar conclusões obtidas após árduo trabalho de raciocínio. Na maior parte do tempo, praticamente 2/3 do livro, Precth tenta se contrapor à visão “evolucionista” do amor, de que o amor é o mecanismo por trás da busca por pares geneticamente melhores de indivíduos a fim de garantir a qualidade da prole em termos de sucesso na natureza. A ideia alternativa dele nasce da divisão do amor, ou melhor da definição dos conceitos de desejo, emoção e sentimento. Desejo e emoção estão mais determinados pela parte genética / química / bioquímica do ser humano. Já o sentimento, categoria da qual o amor faz parte, é resultado da percepção de nós mesmos (autoimagem / autoconceito / autoestima) e da percepção dos outros sobre nós. É de onde se origina o caos do amor, a tal desordem. A percepção seria moldada a partir de valores e da moral. O valor obtido durante a infância, que pouco se modifica ao longo da vida, e a moral resultada das relações sociais, da cultura, dos costumes. Esta parte da infância e de como a relação pais-filhos (mais especialmente, mãe-filho/a) se projeta na busca do amor é a parte que mais me incomoda. De fato, a infância é uma fase muito especial. Lá se desenvolve a linguagem, se vivencia as primeiras relações sociais, se conforma o cérebro, se aprende a andar … Mas será que o amor é assim tão determinado por experiências bem anteriores na vida do indivíduo? Não é um espaço de tempo grande para tantas outras coisas acontecerem? Mesmo que seja assim determinado tão cedo, pelo fato de ser o sentimento uma ideia, não pode algo mudar o como pensamos as coisas, a vida e o próprio amor?
Seja como for, o livro termina com a afirmação de que o amor é um sentimento, mas de todos os sentimentos, aquele que consideramos especial. O amor é a ideia que fazemos das emoções que sentimos (excitação, sexo, tesão, oxitocina, dopamina, serotonina, vasopressina). Por ser ideia, ela é construída a partir de percepções de nós e dos outros e que, por isso, dá tanto espaço para milhares de formas de amor e seus significados. Bom, se alguém conhece um pouco de Psicologia, sabe que a questão da percepção já foi estudada como um dos componentes por trás das atitudes e dos comportamentos. Como disse, nada de novo.